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Entenda o que são fundos de Venture Capital, Private Equity e Search Funds

Conheça as características, diferenças e como esses fundos podem impactar as companhias.


No mundo corporativo, as empresas se deparam a todo momento com a necessidade de se financiar para tocar algum projeto específico. Imagina que Peter, um admirador de tecnologia, e uma pessoa muito criativa, tenha desenvolvido um aplicativo móvel (App) que mensura quanto CO2 é emitido na atmosfera por cada região. Ele acredita que com a crescente discussão sobre o ESG (Environmental, Social and Governance), esse App te gerará bons retornos no futuro. Já desenvolveu um protótipo, e agora busca realizar um fundrainsing para amadurecer sua ideia.


Já Mélia tem um negócio físico de moda e vestuário que é maduro e sustentável e apresenta boas margens de ganhos. Esse cenário favorável, motiva Mélia a buscar recursos financeiros para investir em seu business e expandir para outras regiões e novos mercados. Por fim, Arthur é CEO fundador de uma fábrica de instrumentos musicais. Ele já está a frente do negócio há mais de 30 anos e quer se desfazer desse empreendimento para focar em outras prioridades que fazem mais sentido para o atual momento de vida dele.


O que esses três personagens têm em comum? Todos eles buscam funding, seja para amadurecer um novo produto ou serviço, seja para expandir uma operação ou até mesmo vender integralmente o negócio para iniciar outro. Nesse contexto, os fundos de investimentos de Private Equity (PE), Venture Capital (VC) e Search Funds atuam como “financiadores” através de aportes financeiros em empresas estratégicas, isso representa menores custos e maiores ganhos de eficiência para a empresa investida. Veja a seguir as principais características dessas três modalidades de investimento.


VENTURE CAPITAL


Venture Capital (VC), em tradução livre, significa Capital de Risco. É chamado assim devido as suas estratégias de investimentos mais arriscadas, uma vez que prioriza aportes em empresas nascentes que ainda estão em estágios iniciais. Nesse sentido, essa modalidade de investimento está fortemente associada com o universo das startups – o que faz total sentido, quando entendemos o conceito de startup como “empresa em fase incipiente que possui uma proposta de negócio inovadora e com um grande potencial de crescimento”. A questão é, qual é o risco para as VCs? Bem, dentre alguns podemos destacar a exorbitante taxa de mortalidade. De acordo com PricewaterhouseCoopers Brasil (PwC Brasil), nove entre dez startups brasileiras não sobrevivem mais de 2 anos, o que corresponde a 90% de mortalidade. Isso aumenta a imprevisibilidade do investimento que faz com que os investidores exijam uma Taxa de retorno (TMA) cada vez maior para “apostar” na empresa dado o risco relativo. Outro ponto de destaque é a dimensão do aporte. O tamanho do aporte das VCs tende a ficar entre ~R$ 50 Mil e ~R$ 10 MM (milhões), exigindo uma participação de 15% ~ 30% do business.


As empresas podem receber esses aportes através da emissão de novas ações, onde os investidores as compram e o dinheiro é direcionado para as operações. Esse processo é conhecido como "oferta primária de ações" ou "Cash in". Os fundos obtidos pela venda das ações podem ser utilizados para fortalecer o capital de giro, adquirir insumos, reestruturar dívidas e outras finalidades estratégicas, ficando a cargo da empresa investida a decisão de como utilizar esses recursos.


Ao fazer esses aportes, as VCs esperam que a startups apresentem KPI's (Key Performance Indicator) cada vez melhores no curto prazo que reflita em valorização do capital investido para que em dado momento, realize o desinvestimento (Exit ou saída) e ganhe, assim, com a valorização valor aportado.


O foco aqui não é o lucro líquido, visto que a empresa está em fase inicial; mas o que importa é o Equity, isto é, a expectativa de geração de caixa e ganhos futuros (tn), apesar da queima de caixa (Cash Burn) no presente (t0). Agora, fica fácil perceber que se o fundo de VC tivesse que fazer um aporte de investimento em um dos três negócios apresentados na introdução, claramente a escolha por investir no projeto do Peter seria o melhor dado o alinhamento das características informadas com a estratégia do fundo de VC.


PRIVATE EQUITY


O fundo de Private Equity (PE) é uma modalidade de investimento que foca na negociação de participação acionária em empresas não listadas em Bolsa de Valores (no caso do Brasil, empresas não listadas na B3). Essa modalidade tende a ser menos arriscada porque o foco é investir em empresas já consolidadas que apresentam margens positivas, mas que ainda sim tem grande potencial de crescimento com foco no médio/longo prazo.


O tamanho do aporte de PE geralmente é maior do que o do VC. Para a maioria dos negócios, é acima de +R$ 5 MM exigindo como contrapartida uma participação superior a 50% da empresa. O objetivo do investimento de PE é obter o controle decisório da companhia, em outras palavras, o fundo de PE se proprietário das empresas investidas o que lhe dá poder de influência sobre as mais diversas decisões estratégicas da adquirida – lembrando que pode haver várias empresas sob gestão que se encontram nessa mesma situação.


O ingresso desse capital geralmente acontece através da aquisição de ações já existentes. Isso ocorre quando um sócio deseja vender sua participação em uma determinada etapa e um novo investidor a compra. Esse tipo de transação é chamado de Cash-out ou "oferta secundária de ações". Uma característica desse modelo é que o investimento remunera o sócio que está saindo, pois ele está alienando sua participação societária.


Agora, note que se o fundo de PE fosse tomar uma decisão de investimento entre os três negócios apresentados na introdução, aportar na loja de moda e vestuário da Mélia seria a melhor alternativa, visto que há um alinhamento das características informadas sobre o negócio da Mélia com a estratégia do fundo de Private Equity.


SEARCH FUNDS


Search Funds é uma modalidade de investimento pautada na estratégia de compra integral de negócios. Comumente, gerido por jovens altamente qualificados com aspirações empreendedoras, as aquisições levam em consideração as preferências de setor, o porte da empresa e a sua situação econômico-financeira.


A preferência e familiaridade com o negócio é crucial para a decisão de compra, uma vez que quem estará ativamente conduzindo a empresa adquirida é o gestor do Search Fund. Por isso, é necessário ele e os demais integrantes do fundo tenham conhecimento e expertise no setor em que a empresa negociada atua porque é um investimento que, em média, apresentará retorno apenas no longo prazo e exigirá know-how para lidar com as baixas do mercado.

Vale destacar que esses fundos optam por fazer a aquisição de empresas de pequeno e médio porte (PMEs) que já são consolidadas no mercado e que apresentam faturamento bruto superior a R$ 20MM, marg. Ebitda ~20% e fluxo de caixa operacional (FCO) positivo. Em relação ao risco-retorno, esse é um investimento de baixa liquidez, uma vez que não é simples se desfazer de uma empresa e por essa razão, apresenta um maior risco relativo que por outro lado é compensado com retornos mais elevados no longo prazo (~8,4x do capital investido).


Veja que dado as características de um Search Fund apresentadas acima e a “dor” do Arthur, a decisão de compra da fábrica se mostra razoável partindo da premissa de que a saúde financeira da empresa esteja saudável. Nesse sentido, o que Arthur procura está mais condizente com a proposta dos Search Funds.


CONCLUSÃO


Em resumo, ao considerar opções de financiamento para um empreendimento, é essencial compreender as características distintas do Venture Capital, Private Equity e Search Funds. O Venture Capital é mais adequado para startups e empresas em estágio inicial, que necessitam de capital para impulsionar o crescimento rápido e desenvolver sua proposta de valor no mercado. Já o PE é mais direcionado a empresas maduras com histórico de receitas e lucros, que buscam reestruturação, expansão ou saída de investidores existentes. Por fim, os Search Funds são uma alternativa para empreendedores que desejam adquirir uma empresa existente e liderá-la como CEO, alavancando a experiência e o conhecimento do fundo para identificar oportunidades de investimento promissoras.


Com uma compreensão clara das opções disponíveis e uma análise criteriosa das circunstâncias específicas, os empreendedores estarão mais bem equipados para buscar o modelo de investimento mais adequado e impulsionar o sucesso de seus empreendimentos.


EXEMPLOS



TERMOS CITADOS

  • Desinvestimento: O fundo vende suas ações e/ou outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações da empresa investida, retornando capital aos cotistas.

  • ESG: conjunto de boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa relacionadas à gestão de empresas.

  • Funding: captação de recursos para investimento, e pode ser uma excelente opção para se alavancar no mercado.

  • Fundraising: metodologia que busca criar processos para que seja possível a captação de fundos/recursos para o desenvolvimento e financiamento de uma startup ou de um projeto.


Mizael Lucas de Melo


Graduando em Ciências Econômicas


Equipe de Mídias da UFES Finance


REFERÊNCIAS





  • MEIRELLES, Jorge Luís Faria; PIMENTA JÚNIOR, Tabajara; REBELATTO, Daisy Aparecida do Nascimento. Venture capital e private equity no Brasil: alternativa de financiamento para empresas de base tecnológica. Gestão & Produção, v. 15, p. 11-21, 2008.





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Guilherme Araujo
Guilherme Araujo
Jun 16, 2023

Parabéns pelo texto. Muito esclarecedor e didático. É interessante lembrar também os horizontes de cada investimento, os fundos de PE tem previsão de conclusão do ciclo, considerando pesquisa, aprovação, aportes e por fim, venda, no horizonte de 5 a 8 anos. Já o VC, este período estimado vai de 8 a 10 anos. É claro se o fundo pegar um mercado Bullish, este período pode ser reduzido e os objetivos de retorno serem alcançados em tempo menor. Espero ter ajudado.

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