“Jogo do tigrinho é 7 vezes maior que a bolsa brasileira, de acordo com a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Cerca de 22,4 milhões de brasileiros, representando 14% da população, se envolveram em apostas online. Em contraste, apenas 2% da população investiu em ações, 5% em títulos privados e 2% em títulos públicos (Tesouro Nacional). Ademais, a “geração Z”, (jovens de 16 a 17 anos), se destaca no envolvimento com apostas online, segundo o qual 29% destes jovens são simpatizantes, e logo após os “millenials” (28 a 42 anos) com uma parcela de participação de 18%. As motivações para apostar, são sintetizadas, basicamente na “romantização” de ganhar dinheiro do dia para a noite, ganhos rápidos no curto prazo, e a ilusão de um “investimento”, principalmente entre os mais jovens, substancialmente mais predominante entre os homens, os quais buscam diversão, emoção e uma suposta oportunidade de altos retornos com pequenas quantias de dinheiro.
Dito isso, fica evidente a natureza humana que prepondera o imediatismo em detrimento da constância e da construção de patrimônio e conhecimento à longo prazo, especialmente entre os moços, que em grande maioria não simpatizam com o viés de longo prazo, muito menos com o enriquecimento paciente, “a passos de formiga”. Nessa linha de raciocínio, fica evidente que isto é um reflexo da complexa economia do país, da deficiente cultura de investimento e das políticas governamentais. Além de características socioculturais da população brasileira, a qual serão abordados em maior profundidade a seguir.
Historicamente, os brasileiros sempre estiveram “inclinados” ao conservadorismo, como a poupança e em menor escala aos títulos do Tesouro Direto. Isto se deve, sucintamente, pela difícil realidade e dura história de nossa nação, é compreensível que as pessoas optem por correr menos riscos, afinal, quando não se tem garantia de dignidade no dia de amanhã, não é pertinente correr riscos além do necessário. Não obstante, a cultura especulativa tem ganhado muita força nos dias atuais, indubitavelmente, como foi explicitado na introdução com a citação da ANBIMA, sendo fortemente impulsionada pelo avanço da digitalização e a emergência de uma “gravidez tardia” do mercado de capitais nacional. Este artigo analisa a dualidade entre a indigente e conservadora cultura de investimentos presente no Brasil e a crescente inclinação brasileira para a especulação.
A Cultura de Investimentos “Tradicional”
Tradicionalmente, a maioria esmagadora dos brasileiros opta por tipos de investimentos mais seguros, como podemos citar:
Poupança: A famosa caderneta de poupança, de extrema popularidade, principalmente entre os mais velhos, certamente uma terrível forma de “investir” o dinheiro, seria comparável, didaticamente, a guardar o dinheiro debaixo do colchão, levando em consideração que a poupança, historicamente perde frequentemente para inflação, o que significa que ao deixar todo o dinheiro na poupança, você está perdendo poder de compra ao passar do tempo.
Imóveis: Contrastante a poupança, investir em imóveis já é uma forma bem interessante de investimento, também popular entre os brasileiros, que veem como uma forma segura de preservar e valorizar o patrimônio a longo prazo, não só isso, mas também se destaca pela regularidade da remuneração, proporcionando uma fonte de renda passiva mensal por meio de aluguéis. Ademais, se torna ainda mais interessante na bolsa de valores, quando se trata dos Fundos Imobiliários, que com apenas 10 reais investidos, podem distribuir dividendos igual um "reloginho” todo mês para o investidor.
Tesouro Direto: Este programa do governo é a forma de investimento mais segura conhecida no país, garantida pelo Tesouro Nacional, o único risco do tesouro direto é o sistêmico, tirando a possibilidade de cair um meteoro no Brasil, o risco dessa classe de investimento tende a zero, afinal, para o governo cumprir com as suas obrigações nesses títulos de dívida pública, no último dos casos, ele poderia facilmente imprimir mais dinheiro para evitar dar um calote nos investidores. A taxa DI, taxa de depósitos interbancários, oriunda dos empréstimos de curtíssimo prazo, realizados entre as instituições financeiras geralmente 0,1 pontos menor que a taxa Selic, é a base referencial de todo o tesouro direto e da renda fixa em geral, utilizada como base mínima de rentabilidade, pois para correr mais riscos, coerentemente deve-se obter mais retornos que o investimento mais seguro de todos.
A Emergência da Tendência Especulativa
Paralelamente ao tradicionalismo financeiro nacional, vem surgindo novos ânimos entre os brasileiros para a especulação, que vem ganhando bastante espaço, tendência esta sintetizada a seguir:
Apostas Esportivas / Jogos de Azar: Em geral, são uma forma de entretenimento em que os apostadores fazem previsões sobre os resultados de eventos esportivos e colocam dinheiro com base nessas previsões, em uma variedade de esportes, como corrida de cavalos, futebol, basquete, tênis, entre outros. Recentemente, jogos de azar como o “Tigrinho”, “Aviãozinho” e a “Blaze” se popularizaram massivamente pelo Brasil. O funcionamento desses jogos é basicamente como aparelhos de um cassino online, como o caça-níquel por exemplo.
Day Trading/Swing Trade: O Day Trade se trata da prática comprar e vender ativos financeiros dentro do mesmo dia, operações de curtíssimo prazo, que objetivam tentar prever o comportamento futuro do mercado e lucrar com a variação dos preços, essencialmente, comprando barato e vendendo mais caro. De forma bastante semelhante é o Swing Trade, porém o especulador fica com algumas ações por alguns dias ou até meses, só faz a troca quando detecta um momento oportuno, ou seja, é uma operação de curto para médio prazo.
Criptomoedas: O mercado de criptomoedas tem atraído muito brasileiros, especialmente a juventude, devido ao seu potencial explosivo de altíssimos retornos, entretanto, a volatilidade também altíssima desse mercado representa um risco significativo de corrosão do patrimônio.
Investimento X Especulação “Recentemente, jogos como ‘do Tigrinho’ e ‘do Aviãozinho’ se popularizaram no país, principalmente com a alta divulgação feita por influenciadores digitais. Mas essa a promessa de altos rendimentos em prazos curtos não pode, de forma alguma, ser considerada investimentos.
Os jogos não oferecem uma garantia de retorno, assim como uma lógica para o aumento do valor inicial apostado. Assim, o ganho da pessoa fica à mercê da aleatoriedade e da sorte, o que os caracteriza como Jogos de Azar – o que, além de não ser um investimento, é ilegal no Brasil.
Como não são gerenciados por casas de apostas, jogos como esses se multiplicam em várias plataformas online, geralmente sob o disfarce de “cassino online”. As casas de apostas online, chamadas “bets”, não são ilegais, e sua regulamentação está em trâmite no Congresso.
O economista e influenciador Gil do Vigor alertou em seu perfil no Instagram sobre o perigo das apostas em jogos de azar. De acordo com ele, aqueles que mais procuram as promessas de rendimentos altos e rápidos são os que precisam mais, os endividados.
Quanto mais você precisa, mais desesperado está, maior a probabilidade de colocar seu dinheiro, que já não tem muito, em algo que provavelmente vai perder. Dinheiro fácil não existe! Não existe almoço grátis!”.
Trecho este extraído do site da B3(Brasil, Bolsa, Balcão) a empresa da Bolsa de Valores do Brasil, resultado da fusão entre a BM&FBOVESPA e a Cetip. Ela é responsável por intermediar negociações de ações, títulos públicos, Fundos Imobiliários, derivativos, entre outros, além de oferecer serviços de custódia, registro, compensação e liquidação de operações financeiras.
Por conseguinte, como esclarecido no trecho anterior, existe uma diferença clara entre investimento e especulação, e de forma alguma, podemos confundi-los. De forma geral, consoante a XP Investimentos, podemos dizer que investir significa aplicar o dinheiro em um projeto com potencial de crescimento e com a expectativa de um retorno futuro, pautada em análises fundamentalistas e estudos prévios do ativo, enquanto o objetivo da especulação é um resultado de curto prazo, essencialmente uma aposta ou palpite de mercado.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra como seja quase impossível sobreviver fazendo “day trade”. A pesquisa foi encomendada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os pesquisadores da FGV Fernando Chague e Bruno Giovannetti analisaram dados de 2012 até 2017. Foram monitoradas 19.696 pessoas que começaram a operar com “day trade”.
Desse total, apenas 1.558 (7,9%) tentaram operar no médio-longo prazo. Ou seja, continuaram no “day trade” por mais de 300 pregões. Cerca de 91% desse grupo registrou prejuízo. No total, as perdas acumularam R$ 68,4 milhões. Uma média de R$ 35,90 por dia para investidor, com picos de mais de R$ 1 mil. Um cálculo que não considera o custo de corretagem e despesas com plataformas de negociação ou eventuais cursos. Foram contabilizados apenas os emolumentos e taxa de registro variável cobrada pela B3.
Apenas 13 pessoas, ou o 0,8% desse grupo, tiveram lucro médio diário acima de R$ 300. O valor médio diário de R$ 300 é considerado como o ganho de um motorista de um aplicativo de transporte particular.
“Nós apresentamos fortes evidências de que não faz sentido, ao menos econômico, tentar viver de “day trading”. Os dados indicam que a chance de obter uma renda significativa é remota para as pessoas que persistem na atividade. Por outro lado, a chance de se obter prejuízo é muito elevada”, escreveram os pesquisadores no estudo. A proliferação de corretoras e casas de análises que promovem o day trade levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a emitir um ofício na última quinta-feira (7). A CVM orientou as casas de análise a evitar expressões como “renda certa”.
A pesquisa da FGV mostra como os investimentos de longo prazo mudem radicalmente o cenário. “Se você investe em ações pensando no longo prazo, na aposentadoria, vale muito a pena. Porém, isso é completamente diferente de entrar na bolsa todo dia para comprar e vender”, mostra o estudo. Para Tiago Reis, fundador da SUNO Research, o resultado dessa pesquisa era esperado. “Para mim isso não é novidade. Basta pegar a lista dos maiores investidores do mundo para ver claramente que não tem um “day trader”, explicou Reis.
Entretanto, segundo ele o Brasil ainda precisa de uma nova cultura de investimentos de longo prazo, que supere o “day trade”. “O País está caminhando na construção de uma cultura de investimentos. O brasileiro médio ainda não investe em ações. Ao criar uma falsa expectativa no investidor que não conhece o mercado, cria-se uma noção errada quanto à capacidade das ações em criarem riqueza”, explicou Reis, “vejo como altamente positivo a intenção da CVM em punir aqueles praticam a propaganda enganosa. Se queremos um país sério, precisamos de um mercado de capitais fortes e sem players operando na clandestinidade”.
A Semelhança entre o Vício em Apostas e a Dependência Química
Embora, de certa forma, algumas formas de especular no mercado possam gerar alguns retornos, eles são “inconcretos” e inconstantes e afetam fortemente os alicerces psicológicos da psique, pois são fundamentos na mentalidade de cassino e apostas, na qual agravam-se na maioria dos casos num vício perigoso. Quando uma pessoa realiza uma aposta e observa o resultado, atividade cerebral aumenta, neurotransmissores como a dopamina, associados ao prazer, são liberados, e a pessoa se sente bem, quando ganha, quer ganhar ainda mais, quando perde quer recuperar, é um círculo vicioso e destrutivo.
As semelhanças entre o vício em jogos e a dependência química são notáveis, especialmente pelo fato de ambos levarem a comportamentos compulsivos, ou seja, as pessoas que têm essa prática caminham a passos largos das veredas que levam a autodestruição, cada vez mais perdendo o domínio próprio, o que pode resultar em problemas como grandes perdas financeiras, negligência familiar, perda do emprego, ou até mesmo o completo adoecimento mental.
A dependência não se manifesta apenas nos comportamentos, mas também nas emoções e pensamentos, que perpetuam o vício devido aos gatilhos de recompensa imediata que proporcionam. Não podem ser subestimadas de maneira alguma, porquanto, assim como as drogas, começam completamente inofensivas, mas certamente levam aos caminhos do abismo e da destruição da vida de uma pessoa.
Além disso, ambas as dependências podem literalmente alterar a química do cérebro, levando o indivíduo a aumentar a dose ou o valor das apostas cada vez mais, o nível basal de recompensa sobe e o corpo acaba se acostumando, ou também ao passar mais e mais tempo envolvido pela “serpente do vício”.
Fatores Contribuintes para a Mudança de Perfil do Investido Brasileiro
Educação Financeira: O aumento da oferta de conteúdo educativo no âmbito das finanças pessoais e o mundo dos investimentos tem ganhado força nos últimos anos e ajudado a desmitificar e democratizar o mercado financeiro e exortar ao seu acesso a todas as pessoas da sociedade. Todavia, ainda não é o suficiente, visto que, apenas 19,4 milhões de brasileiros estão cadastrados na bolsa como pessoas físicas e grande parte destes indivíduos são especuladores, não investidores. É evidente que a cultura de investimento no Brasil é embrionária, mas está caminhando rápido, o que torna ainda mais essencial a disseminação de conhecimento e instruções financeiros a população.
Tecnologia e Acesso: A digitalização e a proliferação de aplicativos financeiros têm auxiliado muito e democratizado o acesso ao mercado de capitais, permitindo que mais pessoas invistam com muita facilidade e em poucos minutos.
Cenário Econômico: Os cortes da taxa de Juros no Brasil, têm evidenciado a potencial virada de ciclo macroeconômico, o que torna o investimentos tradicionais menos atraentes, visto que sua remuneração é substancialmente pautada na taxa Selic, ou seja, conforme o COPOM(O Comitê de Política Monetária), o órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic, vai cortando a taxa básica de juros nacional , esses títulos remuneram cada vez menos, e por correlação negativa da macroeconomia, a diminuição da Taxa Selic, provoca o aquecimento e impulsionamento econômico, tornando o mercado de capitais muito mais atraente aos olhos dos investidos estrangeiros e brasileiros.
Conclusão
A cultura de investimento no Brasil está potencialmente em um ponto de inflexão. Enquanto a tradição ao conservadorismo ainda favorece investimentos mais seguros, o investimento em ativos da renda variável (bolsa de valores), têm ganhado o coração de alguns brasileiros, como eu por exemplo, o que escreve este artigo nesse momento, entretanto, a especulação também vem se tornando cada vez mais comum, propulsionado por fatores econômicos e tecnológicos. O futuro da cultura de investimentos brasileiras dependerá da capacidade dos investidores de discernir investimento de especulação e equilibrar a balança de risco e retorno dos ativos, utilizando conhecimento e as ferramentas cada vez mais disponíveis para tomar decisões financeiras mais assertivas e inteligentes, visando a construção sólida de patrimônio e/ou renda passiva á longo prazo.
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