top of page
  • Foto do escritorAdmin

Afinal, pra fugir da inflação é só comprar um IPCA+?



Uma das tristes marcas de nosso país é o histórico de inflação. Presente desde a primeira crise econômica de nossa República, a Crise do Encilhamento, passando até às hiperinflações das décadas de 80 e 90, a perda do poder de compra de nossa moeda sempre foi uma preocupação.


Além do prejuízo sentido no bolso da população esse péssimo histórico gera desconfiança institucional e em parte é responsável por nossa instabilidade política, uma vez que boa parte das medidas reconhecidas na academia como meios eficazes para combater altas de inflação estão relacionadas a provocar uma diminuição na atividade econômica, como alta de juros e outras medidas impopulares.


É devido a esse histórico que foram criados os títulos públicos indexados à inflação, uma alternativa de investimento em renda fixa onde o investidor é remunerado pelo somatório de duas taxas de juro, uma que é pré-fixada a qual se conhece na hora de fazer a aplicação e outra pós-fixada que será igual à inflação do período medida pelo índice de inflação IPCA.


Devido à composição, esses títulos que ficaram conhecidos popularmente como IPCA+ caíram no gosto dos investidores e são hoje responsáveis por cerca de 54,82% das aplicações realizadas por pessoas físicas através da plataforma Tesouro Direto e cerca de 27,60% do total da dívida pública brasileira.


A razão para o sucesso do investimento atrelado a inflação é clara, visto que no fim do dia o que faz diferença para o crescimento do patrimônio do investidor é a rentabilidade real, ou seja, o valor total que um investimento entrega subtraído da perda do poder de compra no período e dos custos operacionais e tributários.


Contudo, é preciso lembrar: apesar do título garantir que o valor da inflação será pago esta é apenas uma parte da rentabilidade que se pode obter. Existe também um componente pré-fixado na remuneração do investidor. Você sabe como funciona essa parcela da remuneração?




Vejamos, no gráfico abaixo estão as taxas atuais do título:



Na tabela observamos que o título IPCA+ 2045 paga aproximadamente 5% de juros ao ano acrescido da inflação. Por se tratar de uma taxa pré-fixada podemos ter certeza que no vencimento, em 2045, o investidor poderá resgatar o valor aplicado acrescido dessas duas taxas. Nesse sentido temos a segurança que é o grande atrativo da renda fixa.


Contudo, essa remuneração não se dá de maneira uniforme durante toda a vigência do título, ou seja, esses 4,6% não são distribuídos de maneira uniforme todos os anos até o vencimento. Essa remuneração, na verdade é uma média do quanto será acumulado até o vencimento, porém a maneira como ele se distribuí durante o período ocorre de acordo com as oscilações da taxa de juros do mercado.


Mas afinal, o que isso significa na prática?


Ao observarmos o preço dos títulos na plataforma Tesouro Direto vemos que há uma oscilação, tal qual ocorre em mercados de renda variável. Ou seja, o preço do seu título pode (e vai) subir ou cair antes do vencimento.


Isso ocorre porque ao comprar um título com taxa pré-fixada você assegura o recebimento dos juros contratados no vencimento, contudo há novas emissões de títulos públicos ocorrendo ao longo de todo esse período e essas novas emissões ocorrem com taxas diferentes daquela que você contratou quando fez a compra de seu título.


Sendo assim há disponíveis no mercado tanto os títulos já vendidos ao público, com taxas já definidas, quanto novos títulos, com taxas que dependerão do momento que o mercado está vivenciando.


Caso haja um aumento da expectativa de inflação e os órgãos que fazem a gestão da política monetária do país decidam aumentar a taxa de juros, serão emitidos títulos que refletem essa mudança, ou seja, os novos títulos oferecidos ao mercado terão uma taxa pré-fixada que estará maior que os títulos emitidos anteriormente.


Nesse momento o leitor pode se perguntar como isso afeta os títulos que já existem no mercado.


Ocorre que esses títulos, que pagam uma taxa menor, ainda estão a disposição para serem negociados pelo investidor que os comprou, porém, como oferecem uma taxa menor que a atual eles sofrem uma desvalorização, e caso seja objetivo do investidor vender aquele título antes do vencimento ele poderá sair no prejuízo, uma vez que não há garantias de que a inflação irá subir o suficiente no período entre a compra e a decisão de venda para compensar a baixa de preço provocada pela alta nas taxas.


Ainda que o investidor decida não fazer a venda desses títulos, ele irá obter uma rentabilidade menor que a dos títulos atuais, uma vez que contratou uma taxa abaixo daquela que é praticada no segundo momento.


Até o momento, podemos perceber a importância de um bom planejamento a respeito de quando será realizado o resgate desses títulos, bem como de se observar o ambiente macroeconômico antes de fazer aplicações, contudo o leitor pode estar com a impressão de que há apenas desvantagens ao comprar um título de renda fixa com características mistas ou pré-fixadas, mas não é o que acontece.


Analisemos a tabela abaixo, ela mostra a rentabilidade dos títulos IPCA+ 2045 no primeiro semestre de 2019:



Perceba que o título rendeu 31,44% em um único semestre! E melhor ainda, no período de 12 meses foram mais de 60%, ganhos altos até mesmo para carteiras de renda variável sendo obtidos em um título de renda fixa!


Mas afinal, como isso acontece? Basta voltarmos ao racional que foi apresentado anteriormente para entendermos a possibilidade de perda na renda fixa.


Se antes analisamos o que ocorre quando as taxas de juros de mercado sobem, agora estamos observando o que acontece quando taxas de juros caem. Vimos a taxa de juros cair muito no início de 2019, isso reflete positivamente nos títulos que já foram comprados uma vez que se os novos títulos apresentam taxas reduzidas sua venda não faria sentido ao preço anterior, quando a taxa de juros de mercado cai os preços dos títulos incorporam no presente todo o ganho extra que trariam até o vencimento quando comparados aos novos títulos que estão sendo emitidos a taxas menores.


Isso nos leva a outro ponto importante que é a possibilidade de resgate desse capital. Muitos investidores acreditam que estariam em melhor situação caso mantivessem os títulos antigos, com taxas de juros mais altas. Esse racional não faz sentido uma vez que todo o rendimento extra foi adicionado ao preço dos papéis. Portanto, a manutenção dos títulos em carteira desse ponto em diante não irá render mais do que aos novos títulos que estão sendo vendidos a mercado. Isso ocorre porque a variação nos preços é justamente um meio para que as taxas de rendimento dos títulos novos e antigos fiquem iguais.


Sendo assim vale a pena manter esses títulos em carteira apenas caso o investidor acredite que a taxa de juros continuará igual ou mesmo caindo, portanto, trazendo um maior percentual dos juros contratados ao valor presente dos papéis.


Diante dessas informações fica claro que há possibilidade de fazer uma gestão ativa nos títulos de renda fixa, e essa pode ser uma alternativa interessante para quem se interessa por acompanhar o cenário macroeconômico.


Por outro lado, também fica evidente que é de extrema importância que o investidor saiba se ele pretende fazer os resgates antes do vencimento ou não, isso afetará a decisão de quanto de sua carteira poderá ser alocada em títulos mistos.


Com a popularização da plataforma Tesouro Direto muitos investidores têm alocado suas reservas de curto prazo em papéis que possuem sensibilidade muito grande as alterações na taxa de juros, precisamos lembrar que, como foi visto aqui, apenas no título pós fixado (no nosso caso o Tesouro Selic) não sofre alterações negativas de preço. Porém, isso não significa que seja errado fazer uma alocação de curto prazo nesses títulos, os vencimentos curtos possuem menor sensibilidade às variações na taxa de juros e podem ser uma alternativa aquele investidor que deseja se proteger da inflação, mas aceita correr algum risco de desvalorização.


Já os títulos com vencimento longo, mesmo com a proposta de proteção contra a inflação devem ser utilizados tendo em mente a possibilidade de desvalorização antes do vencimento, sendo ideais para resgates mais longos ou para gestão ativa.


Uma alternativa para quem deseja fazer alocações ativas em renda fixa, além do estudo da macroeconomia e do funcionamento dos títulos é assinar alguma casa de análise que pode ser encontrada a partir de 20 reais mensais e contar com o acompanhamento de um profissional.


Assim o investidor mantém a alocação alinhada ao perfil de investimentos e ainda consegue entender melhor o funcionamento deste mercado, evitando cair em confusões causadas pelo eventual desconhecimento das fascinantes relações entre a macroeconomia e o mercado de renda fixa.


Luan Pereira

Graduando em administração

Equipe de Mídias


Referências:


https://www.tesourodireto.com.br/titulos/historico-de-precos-e-taxas.htm


https://www.google.com/amp/s/valorinveste.globo.com/google/amp/produtos/renda-fixa/tesouro-direto/noticia/2019/06/25/4-titulos-do-tesouro-direto-renderam-mais-que-o-ibovespa-em-2019.ghtml


https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO_ANEXO:14157

56 visualizações0 comentário
bottom of page