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A inflação está aumentando?


O consumidor brasileiro tem sentido o aumento dos preços ao ir ao mercado.

Ao ir a algum mercado nos últimos meses, você provavelmente deve ter se assustado com o preço de alguns itens importantes no seu dia a dia. Talvez você tenha achado que o dono do mercado estava cobrando preços abusivos, visando lucrar em um período tão difícil como o que estamos vivendo. Mas será que realmente é isso? O problema que temos enfrentado, devido ao aumento do preço de alguns itens da cesta básica de parte da população do país, não está ligado à ganância desses comerciantes, mas sim ao aumento da inflação sobre esses produtos.


A palavra inflação assusta o povo brasileiro e traz péssimas recordações de um período não tão distante. Mas será que existe a chance de voltarmos a sofrer com uma inflação tão elevada quanto a daquela época? É possível saber o motivo pelo qual o preço de alguns produtos está subindo? Para respondermos essas perguntas, precisamos, primeiramente, entender o que leva ao aumento inflacionário.


O que gera inflação é a interferência do Estado, a partir da inserção excessiva de moeda na economia. Para entendermos melhor essa relação, vamos exemplificar.


Imagine que em um país ocorra uma pequena queda da demanda por bem e serviços e, para evitar que o PIB seja afetado, o responsável pela economia do país decida intervir, através de gastos públicos ou injetando mais dinheiro do que geralmente ocorre. Esse movimento interventor levaria, a partir do aumento da renda, ao aumento da demanda agregada do país, causando, também, o aumento do produto.


Outra consequência que também seria sentida, nesse caso, é o aumento de preços ao consumidor (inflação). Inicialmente, esse aumento da inflação tornaria o valor real dos salários mais baixo, ou seja, ficaria mais barato para o empresário pagar o salário de seus funcionários e geraria ao empregador a oportunidade de contratar mais pessoas. Entretanto, ao sentirem o aumento dos preços, esses funcionários reclamariam por aumento nos salários, o que provocaria uma regressão no nível de empregados, com a inflação sendo mantida a níveis mais elevados.


Tentando manter o nível de desemprego baixo, o responsável pela economia do país decide, mais uma vez, injetar elevadas quantidades de moeda na economia, levando à ocorrência de todo o ciclo novamente e, tendo como resultado final, uma inflação ainda mais elevada e a taxa de desemprego voltando à taxa inicial. Como forma de tentar controlar a inflação, é adotada uma nova medida, diminuindo a quantidade de dinheiro injetado na economia, porém, isso levaria o desemprego ao maior nível, considerando o nosso exemplo.


Uma forma de controlar a inflação de um país, seria através do aumento da taxa de juros básica, que provocaria uma retirada da moeda em circulação na economia para investimentos em títulos, por exemplo.


Entendido o que está por trás do aumento da inflação, já conseguimos responder de forma clara as perguntas feitas inicialmente.


Primeiro, vamos entender a situação atual de nosso país.


Com a chegada da pandemia da covid-19, muitos estabelecimentos e lojas precisaram fechar suas portas. As pessoas, para evitar o contágio, tiveram que ficar em casa, causando uma queda brusca na economia do país. Para combater os efeitos da pandemia, foram tomadas pelo governo duas medidas: diminuição da taxa de juros a valores historicamente mínimos e distribuição do auxílio emergencial para as famílias mais afetadas e de baixa renda.


Sabemos, com base em nosso outro texto “Além da renda fixa – como a taxa de juros influencia os nossos investimentos”, que a taxa de juros baixa aquece a economia, provoca a desvalorização da moeda e o aumento nas exportações de alguns bens. A distribuição do auxílio emergencial nada mais é que a entrada de mais moeda na economia.


A questão relacionada ao nosso país passa diretamente por esses dois pontos. A retomada da economia aos poucos, com a reabertura do comércio, veio acompanhada de um enorme aumento na demanda, provocado essencialmente pelo aumento da renda, a partir do pagamento do auxílio emergencial às famílias. Houve então, por parte das empresas, uma tentativa de acompanhar essa demanda, porém, nem todas as áreas da economia conseguiram realizar esse feito, e o motivo passa pelo outro fator citado anteriormente. A taxa de juros baixa facilita as exportações e, dessa forma, alguns bens primários, usados como insumos, passaram a ser mais exportados, diminuindo a oferta desses bens na economia interna. Ao contrário do que vimos ao explicar o que causa a inflação, o aumento dos preços, no caso do Brasil, ocorreu inicialmente no consumo intermediário e, como consequência, posteriormente, nos preços ao consumidor.


Ao analisarmos a inflação dos últimos 12 meses e a meta de inflação do país para o ano, podemos ter a falsa impressão de que esse aumento dos preços não está ocorrendo. Entretanto, ao analisar os setores de forma individual, é possível identificar alguns muito importantes, onde há um aumento acima do comum.



Um dos setores onde a influência dessa falta de oferta parece mais evidente é o de alimentos, com os indicadores de inflação do ano no setor mostrando um valor bem acima do acumulado dos últimos 12 meses.



Fonte: BCB; Gráfico por: Fernando Ulrich

Dito tudo isso, será necessário se preocupar com o nível que a inflação pode atingir nos próximos meses ou anos? Tudo depende das medidas que serão adotadas pelo governo e pelo Banco Central nos próximos meses.


Algumas parcelas do auxílio emergencial ainda devem ser pagas, e segue na pauta do governo a criação do Renda Brasil, como substituto do Bolsa Família, que atenderia a mais de 30 milhões de brasileiros. Porém, esse movimento do governo provavelmente acarretaria em mais problemas fiscais ao país do que monetários.


O grande ponto para o controle da inflação, nesse momento, é o aumento da taxa de juros pelo Banco Central. Dessa forma, o retorno de investir no país estaria mais de acordo com os riscos de uma economia emergente, como a do Brasil, e possibilitaria a volta do capital estrangeiro ao país. Assim, com mais dólar entrando na economia, o real tenderia a se valorizar e, como resultado disso, haveria uma diminuição na quantidade de bens primários exportados e, consequentemente, maior oferta desses bens no mercado interno. Com a oferta maior, esses bens poderiam ser usados como insumos e ajudariam a equilibrar a oferta com a demanda do país.


Caso o Banco Central decida manter a taxa de juros nos níveis atuais, nos próximos meses, poderemos presenciar um aumento considerável nos preços de alguns itens que são essenciais no cotidiano das famílias brasileiras, e nos mantermos por um bom tempo em um momento de estagflação, onde a economia não se desenvolve, porém, o nível de inflação se mantém elevado.


Luan Victor França

Graduando em ciências econômicas / 2° período

Membro da Ufes finance desde 09/2020

Equipe de mídias

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