Como os movimentos na taxa de juros podem influenciar a migração de investidores na escolha de ativos e na alocação do portfólio, e como influencia no poder de compra, no acesso ao crédito, na variação do dólar, entre outros.
Os empréstimos pelo ponto de vista de quem empresta
No mundo dos investimentos, ou você se torna sócio de uma empresa ou você empresta seu dinheiro a alguém, e recebe uma porcentagem por isso.
O empréstimo é uma modalidade importante de investimentos para a economia e representa a troca de dinheiro e crédito entre dois agentes - instituições, empresas ou pessoas -, sendo que um tem dinheiro em excesso, e está disposto a emprestar em troca de juros, e o outro tem dinheiro em escassez e precisa tomar dinheiro emprestado. Os juros são, portanto, o custo do dinheiro no tempo, dado que quem empresta quer receber algo em troca, por causa do risco atrelado a emprestar o seu capital.
Emprestar o dinheiro para o governo é, geralmente, mais seguro do que emprestar às outras entidades, porque o risco atrelado ao Brasil é menor do que o risco de quebra de empresas, bancos e pessoas. Se você empresta o seu dinheiro para o governo federal, por meio de títulos do Tesouro Nacional, o custo do dinheiro no tempo vai ser representado pela taxa de juros Selic.
A taxa básica de juros e os impactos na economia
A taxa Selic é um dos instrumentos de política monetária utilizados pelo Comitê de Política Monetária, órgão atrelado ao Banco Central, como forma de controlar a inflação - a alta dos preços dos produtos em geral, que decorre do aumento da demanda. Desse modo, a Selic representa a média de juros que o governo paga pelos seus empréstimos, de forma que o seu aumento ou a sua diminuição causam impactos na economia e nos investimentos.
Quando a taxa de juros está baixa, tomar dinheiro emprestado fica mais barato, de modo que a tendência é de aquecimento da economia: as pessoas tomam mais empréstimos, o dinheiro circula com mais facilidade, as empresas investem e crescem, a procura pelos produtos sobe, e, consequentemente, os preços também.
Diferentemente, quando a taxa de juros está alta, há um incentivo menor para que bancos, empresas e investidores busquem novos negócios, uma vez que investir em títulos públicos garante, nesse cenário, uma boa rentabilidade, com baixo risco de crédito e liquidez. Consequentemente, isso desacelera a economia.
O aumento na taxa de juros e o impacto nos investimentos
O Brasil já teve sua taxa básica em patamares altíssimos. Entre 2015 e 2016, a taxa Selic se encontrava em 14,25% ao ano, o que significa que se você investisse um milhão de reais em janeiro, receberia cerca de 140 mil reais em dezembro. Hoje, em 2021, com a taxa em 3,5%, esse mesmo montante renderia cerca de 35 mil reais.
Quando falamos de aumento da taxa de juros, este cenário favorece a migração de parte dos investimentos mais arrojados, e que envolvem mais risco, como as ações de empresas, para ativos mais conservadores, como os títulos e os produtos pós-fixados, dado que a rentabilidade fica mais atrativa.
É nesse cenário que o investidor estrangeiro também é atraído a passar a investir mais no país, o que faz com que o real se fortaleça. Carry trade é um termo usado quando o gringo pega empréstimo em um país com juro baixo e aplica no país com juro alto, para ganhar a diferença.
Clara Salim
Graduanda em Direito
Presidente da UFES Finance
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