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O que podemos aprender com a história de Bernard Madoff?



Um dos grandes temores de quem começa a buscar investimentos no mercado financeiro é não apenas de correr riscos no que diz respeito a natureza dos ativos, sua volatilidade, risco de crédito ou default, mas também de cair em golpes nos quais o ativo investido sequer existe, e, entre um dos mais conhecidos, estão as pirâmides financeiras.


As pirâmides, em geral, se caracterizam por oferecerem elevados retornos em relação às possibilidades mais comuns no mercado, baixo nível de transparência e uma forte ênfase na entrada de novos participantes.


Afinal, quem nunca ouviu falar em Telexfree, Fazendas Boi Gordo ou, até mesmo, os recentes golpes feitos com supostos investimentos em bitcoin?


Houve casos envolvendo até mesmo pessoas famosas, como Ronaldinho Gaúcho que fazia publicidade para a 18K Ronaldinho, um esquema de pirâmide que envolvia a venda de relógios de luxo e mineração em bitcoin (sim, eles misturaram relógios e bitcoin!) para disfarçar sua insustentabilidade.


Em geral, esses esquemas fraudulentos não costumam durar muito tempo, dada a necessidade constante de novos entrantes e retornos absurdamente altos e supostamente garantidos. Há uma forte propaganda envolvida que acaba levando a denúncias e encerramento das atividades.


Contudo, ainda assim há casos extremamente sofisticados de golpistas que conseguem angariar milhares de pessoas para seus esquemas baseados em forte publicidade e imagem de respeito. Entre eles, podemos citar Bernard Madoff, criador de um dos maiores e mais longevos sistemas de pirâmide financeira da história, que faleceu recentemente, no dia 14 de abril, na prisão em que cumpria pena por seus crimes.


Madoff, antes de criar seu sistema fraudulento, chegou, ainda na década de 90, a ser diretor da Nasdaq, a bolsa de tecnologia de Chicago, nos EUA. Usando sua credibilidade concedida por uma carreira de sucesso como executivo, criou uma empresa chamada Bernard L. Madoff Investment Securities LLC, que durante sua operação gerou cerca de 65 bilhões de dólares.


Fundada na década de 60, seu principal alvo eram organizações filantrópicas e educacionais, além de milhares de pessoas físicas, entre eles Steven Spielberg e o escritor sobrevivente do holocausto e ganhador do Nobel da Paz, Elie Wiesel, que investiram na empresa baseados em demonstrações financeiras fraudadas.


Segundo as investigações, desde a década de 70, a empresa funcionou sem realizar operações no mercado, mas fazendo saques do capital de novos entrantes para pagar eventuais saídas de investidores. Contudo, durante a crise de 2008, o número de entrantes começou a decrescer, fazendo com que se tornasse cada vez mais insustentável o nível de retorno oferecido.


A prisão, porém, veio somente após o próprio Madoff confessar a seus filhos, numa conversa em 2008, que haviam gigantescas fraudes sendo organizadas pelo próprio em sua empresa. Os filhos de Madoff o denunciaram à polícia logo em seguida, e uma operação foi montada para entender o esquema, o que levou não só a prisão de Madoff, mas também escancarou a ineficiência dos auditores que, ao contestarem resultados suspeitos durante o funcionamento da empresa, acabavam por aceitar suas respostas ainda que evasivas ou pouco esclarecedoras devido à credibilidade do executivo.


Dada a natureza de seus investidores e a magnitude da fraude, houve forte comoção internacional, levando à necessidade, até mesmo, do uso de colete à prova de balas durante seu julgamento, dado o temor de que houvesse algum atentado contra o mesmo.


Passados 12 anos desde sua prisão, o criador da maior pirâmide financeira de que se tem registro na história morreu, segundo seu advogado, devido à sua doença renal, cujo estágio terminal o levou a óbito, deixando para trás o legado de bilhões em prejuízo não somente a grandes fundos e investidores citados acima, mas a um contingente de cerca de 37 mil pessoas em diversos países.


Apesar de tantos anos, golpes financeiros continuam a prosperar alimentando o receio citado no início deste artigo. Afinal, como seria possível se proteger? Como identificar tais golpes?


Casos como o de Madoff mostram que mesmo investidores experientes podem ser enganados por esquemas fraudulentos e insustentáveis. Ainda assim, deixar de buscar alternativas de alocação de capital mais rentáveis do que nossa boa e velha poupança ou CDB de grandes bancos não nos parece uma alternativa viável. Como proceder, então, para diminuir esse risco?


Antes de mais nada, devemos buscar entender de onde vem os retornos que nos são oferecidos em determinados investimentos. Conceitualmente falando, a única alternativa “livre de risco”, e, portanto, com rentabilidade garantida, são os títulos do governo pós-fixados, que, no caso do Brasil, são representados pelo Tesouro Selic, assim, a rentabilidade oferecida pelo mesmo deve ser considerada a única totalmente garantida. Mesmo em títulos de renda fixa há outros tipos de risco, como o risco de crédito ou de falta de liquidez por parte de bancos e empresas, e risco de variação negativa antes do vencimento, quando falamos em títulos públicos indexados ou pré-fixados. Portanto, desconfie sempre da “rentabilidade garantida”.


Além disso, devemos procurar, antes de investir em qualquer produto financeiro, saber de onde vem os retornos que são possibilitados por aquele ativo. Procure entender em quais condições um determinado ativo será rentável, entenda o que existe por trás daquela operação. Sabendo quais são as condições necessárias para o sucesso do investimento, seu risco diminui consideravelmente.


Procure, também, saber se a empresa ou o ativo possui registro em algum órgão regulador nacional, como, por exemplo, a Anbima e a CVM, órgãos responsáveis por registrar e fiscalizar a distribuição de valores mobiliários. Acompanhado disso, o investimento pode estar sendo distribuído por alguma empresa confiável, que tenha um bom histórico com corretoras, ou recomendado por analistas profissionais, o que também faz com que a probabilidade de investir em uma fraude seja reduzida.


Por fim, a palavra diversificação precisa estar presente em qualquer portfólio de investimentos. Mesmo que se tome todos os cuidados, é possível cair em golpes de quaisquer naturezas, como nos mostra o recente caso das fraudes contábeis em IRB. Contudo, uma carteira bem diversificada faz com que um eventual erro na escolha de ativos não seja tão prejudicial quanto seria escolher um único ativo que pode conter algum tipo de fraude. Nunca sabemos de todas as informações possíveis a respeito de um ativo, contudo, como diz Warren Buffett em outro contexto, “a diversificação é uma proteção contra a própria ignorância”.


Luan Pereira

Graduando em Administração

Equipe de Mídias


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