As bolsas de valores existem há muito tempo em inúmeros países, cada um com suas peculiaridades. E desde então, neste vasto espaço de tempo, alguns indivíduos se destacaram e entraram para a história do mercado, sendo em decorrência de inovações promovidas por seus métodos criativos de análise, outros por terem alcançado taxas de rentabilidade exorbitantes, criação de empresa de renome, entre inúmeros outros motivos.
Dentro do montante de nomes que podem ser citados como destaques do mercado financeiro, em especial na história recente, podemos falar de Warren Buffet, Peter Lynch, Howard Marks, Benjamin Graham, e outros. Até mesmo David Ricardo, um dos principais nomes da Pensamento Econômico Clássico e um dos mais influentes economistas da história, já chamou a atenção devido seu desempenho na Bolsa de Valores, construindo uma grande fortuna através de suas operações. Entre brasileiros, não faltam figuras que merecem ser citadas. Guilherme Benchimol, Jorge Paulo Lemann, Décio Bazin e Lírio Parisotto são alguns dos indivíduos que se destacaram ao longo dos anos dentro no mercado de capitais brasileiro.
Porém, este artigo focará em apresentar aos leitores a história de quem hoje ocupa o título de maior investidor pessoa física da bolsa de valores brasileira, Luiz Barsi Filho.
Começando a investir na década de 70, o paulista Luiz Barsi vem desde então aumentando gradativamente o seu patrimônio, que atualmente, equivale a cerca de 4 bilhões de reais. Ao longo dessas décadas, Barsi adquiriu participações acionárias em várias empresas, comprando e vendendo sempre que julgando necessário, e conseguiu manter altas rentabilidades e crescentes pagamentos de dividendos provindos de seus investimentos no mercado de ações. Sua relevância dentro do mercado financeiro é de tal calibre ao ponto de ter chegado a desenvolver um próprio método de investimento, intitulado como o Método Barsi de investir, além de ser apelidado por alguns de Warren Buffet brasileiro.
Dentre os papéis que hoje ele possui em sua carteira, alguns de maior relevância são: Banco do Brasil (BBAS3), Taesa (TAEE11), Klabin (KLBN11) e Unipar (UNIP6), empresa essa que Barsi possui em torno de 20% de todas as ações da empresa.
Mas antes que seja possível entender a composição de seu patrimônio, sua carteira de ações e seu método de investir, vamos compreender a trajetória desse grande investidor, visitando seu passado familiar, sua formação acadêmica e sua carreira profissional.
SUA HISTÓRIA
Filho de imigrantes, Luiz Barsi nasceu no dia 10 de março de 1939 na cidade de São Paulo, tendo sido criado na maior parte de sua infância e juventude no Brás, tradicional bairro localizado na região central da cidade. Tendo perdido seu pai quando tinha 1 ano de idade, Barsi teve uma criação extremamente humilde e difícil. A dificuldade financeira forçou o jovem paulistano a começar a trabalhar desde cedo, fosse engraxando sapatos, vendendo balas ou sendo aprendiz de alfaiate. Mas apesar do tempo dedicado ao trabalho em nome de ajudar nas finanças da casa, sua mãe sempre fez questão que o filho jamais faltasse as aulas, motivando Luiz Barsi a ter a melhor formação possível.
Aos 15 anos começou o curso técnico de contabilidade, no qual conseguiu se formar sem grandes dificuldades, visto que foi nessa época que ele começou a trabalhar nessa área em seu primeiro emprego com carteira assinada em um escritório de contabilidade chamado Delatorre, local onde aprendeu muito. E seguindo na busca de avanços em sua vida, Barsi continuou sua educação e se graduou em Economia pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo. Após anos equilibrando uma cansativa rotina de estudos e trabalho, concluiu sua formação em 1962, aos 23 anos.
Como na época o acesso da população tanto ao ensino técnico quanto ao ensino superior era extremamente precário, Barsi possuía um currículo privilegiado, o que permitiu que surgissem oportunidades de trabalho de sobra, inclusive como educador. Foi nos anos seguintes, em que trabalhou durante o dia como auditor contábil, e como professor de noite, que ele começou a realmente entender sobre o funcionamento das empresas de capital aberto e de algo que seria de grande relevância no resto de sua carreira, os dividendos. Após bastante tempo sofrendo com uma vida financeira bem apertada, Barsi começou a se preocupar com uma questão que hoje é tratada com enorme relevância, a aposentadoria.
Vendo que continuaria em uma situação financeira ruim caso dependesse da Previdência Social, perto de seus 30 anos, o então contador decidiu aplicar seu desejo de se tornar sócio de vários grandes negócios através das ações, buscando garantir uma futura renda através dos lucros das empresas. Usando quaisquer sobras que tivesse de sua renda na época, começou a comprar ações de empresas as quais ele mesmo diz não lembrar quais eram, comprando-as de forma bem tímida, em pequenos lotes. Ao longo desse período, Barsi passou a usufruir de melhora na sua qualidade de vida, visto que passou a trabalhar como operador da bolsa para um grupo seleto de clientes, e agora recebia uma pequena renda extra com o recebimento de dividendos e com a venda de algumas ações mais voláteis, além de ter sido sócio da corretora Cruzeiro do Sul durante um curto tempo.
Após ter percorrido diferentes cargos dentro do mercado de capitais brasileiro, Barsi foi se aventurar como editor de economia do jornal diário popular, cargo que ocuparia por 18 anos. Foi no começo da movimentada década de 70, que o então operador iria desenvolver um ensaio sobre o investimento em ações, o qual ele intitulou “Ações que Garantem o Futuro”, onde colocaria em uma obra escrita evidências da possibilidade de um meio seguro e rentável de se construir um plano de aposentadoria de através da compra de ações e o reinvestimento usando os dividendos recebidos para comprar mais lotes, os quais seriam escolhidos com uma análise focada na busca por empresas de setores perenes, estruturadas e pagadoras de dividendos elevados e recorrentes. Foi por meio deste ensaio, que foi criado o chamado Método Barsi de Investir.
Já nesse tempo, ele adquiriu algumas ações que perduram até hoje em sua carteira de investimentos, como a Klabin e o Banco do Brasil. Foi então que, ao final da década de 70, Barsi havia chegado ao ponto de poder escolher se aposentar, visto que sua renda com dividendos já seria o suficiente para parar de trabalhar. Mas decidiu continuar trabalhando, investindo o dinheiro que sobrava e reinvestindo os proventos que recebia.
E o resto é história. O pai de família já nos seus 40 e poucos anos continuou com sua estratégia focada no longo prazo, acumulando ações e, por consequência, sua renda passiva, já chegando a dizer que em 2021 recebeu um milhão de reais diários em dividendos de forma acumulada. Tendo 83 anos, Barsi, hoje, é o maior investidor pessoa física da bolsa de valores com uma fortuna estimada em 4 bilhões de reais.
MÉTODO BARSI DE INVESTIR
O método desenvolvido por Barsi no começo dos anos 70, consiste em uma análise fundamentalista acompanhada da definição de uma meta de número de ações a serem compradas em um certo período. De início, a diversificação de ações deve ser baixa, focando os aportes em um pequeno número de papéis. Esses papéis devem ser comprados abaixo de seu preço-teto (margem de segurança), visando sua valorização. Devem ser ações de empresas de setores perenes, como os setores bancário e de energia, precisam ser empresas estruturadas, ou seja, com lucros altos e administração organizada, e o mais importante, têm de ser instituições pagadoras de dividendos altos e recorrentes nos últimos anos.
Com isso, por meio de aportes mensais e o reinvestimento dos dividendos, o investidor aceleraria a compra de um número crescente de cotas, aumentando de forma exponencial o recebimento dos lucros da empresa. Dessa forma, após alcançar a meta de número de cotas, o investidor não precisaria usar de seu próprio dinheiro para realizar o investimento, podendo utilizar apenas os proventos para realização dos aportes. Assim, com a continuidade da estratégia, a chamada carteira de previdência aumentaria cada vez mais, permitindo que o investidor possa escolher aposentar mais cedo e de forma mais segura, podendo usufruir de uma remuneração superior ao da aposentadoria pública.
Como dito, é um método para aqueles que visam o longo prazo, podendo levar vários anos, se não décadas para ser concretizada com sucesso, fato que exige um controle emocional muito forte, sendo preciso administrar a ansiedade. Barsi já chegou a dizer:
“Qualquer um que investir em empresas com fundamentos, sem ter pressa de vender, vai ganhar dinheiro. Mas, se fizer isso com uma boa estratégia para os proventos, a pessoa fica milionária.”
Das várias operações e empresas que Barsi adquiriu ao longo das décadas, uma que se destaca como sendo um acerto em cheio, foi a compra de ações do Banco Santander. Tendo comprado os papéis quando ainda custavam 50 centavos, Barsi manteve o método de reinvestimento dos dividendos até hoje, quando a mesma ação (SANB4) é negociada pelo valor de 14 reais.
CARTEIRA DE AÇÕES DE LUIZ BARSI
No dia 15/12/2022, Luiz Barsi afirmou, em entrevista ao portal E-Investidor, que possuía os seguintes papéis em sua carteira
· IRB Brasil (IRBR3)
· Unipar (UNIP6)
· Taurus Armas (TASA4)
· Isa Cteep (TRPL4)
· Paranapanema (PMAM3)
Nem todas as empresas que constam em seu portfólio correspondem a sua estratégia focada nos dividendos. Esse é o caso da Paranapanema, empresa que teve grande queda no seu preço unitário após ter pedido recuperação judicial. Porém, de acordo com Barsi, a ação representa uma oportunidade em potencial e diz que ela vai deixá-lo mais rico no futuro. Importante ressaltar que Luiz Barsi possui mais ações do que as listadas anteriormente. Em vídeo gravado com Thiago Nigro, do canal “O Primo Rico”, ele explicou que têm cerca de 90% de sua carteira concentrada em cerca de 10 ações, as quais ele diz ser “pequeno dono”, pois são empresas as quais ele possui suas maiores posições, sendo através delas que recebe sua renda passiva milionária. Já os outros 10% se distribuem no que ele chama de oportunidades, que, no geral, são ações consideradas baratas que possuem potencial de crescimento, além de possuir quantias depositadas em CDBs de resgate automático, que funcionariam como uma reserva, podendo ser usada quando houvesse uma oportunidade no mercado acionário.
DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS
Modalidade de Investimento
· Renda Variável – 97.62%
· Renda Fixa – 0.96%
· Valores em Trânsito – 0.88%
· Fundos de Investimento – 0.60%
Setores de suas ações
· Químicos e Diversos – 50.24%
· Energia Elétrica - 15.11%
· Papel e Celulose - 9.62%
· Bancos – 4.01%
· Exploração e/ou Refino – 3.43%
· Outros – 17,54%
ATIVOS QUE BARSI NÃO INVESTE E O PORQUÊ
Empresas de Setores como Varejo, Turismo e Lazer, Aviação e Construção Civil: Barsi afirma que esses setores sempre carregam pelo menos um dos seguintes problemas: necessidade de financiamento (capital de giro) constante, setores extremamente regulados, vulnerabilidade extrema a crises econômicas, baixo pagamento de dividendos, mas principalmente, excesso de propriedade intelectual e baixa propriedade material.
Fundos Imobiliários (FIIs): Já foi afirmado por Barsi que mesmo sendo classificados como renda variável, os fundos imobiliários, na sua visão, oferecem uma rentabilidade de renda fixa, a qual ele acredita ser baixa. Em entrevista ao Valor Econômico, o investidor criticou os fundos imobiliários, chegou a chamar os FIIs de “conto do vigário”.
Renda Fixa – Na visão de Barsi, o Brasil possui um processo inflacionário muito forte, corroendo o poder de compra do investidor, fazendo com que os ganhos provindos da renda fixa sejam incapazes de geral um ganho real. O megainvestidor chega a apelidar a modalidade de investimento de “Perda Fixa”.
Criptomoedas – Por não haver uma estrutura patrimonial por trás das criptomoedas, não há clareza na análise desse “ativo”, não podendo saber o destino da moeda, havendo assim, um risco muito elevado e nenhuma garantia de retorno.
Este artigo, apesar de seu volume, carrega um mero resumo da história de 83 anos do “megainvestidor”. Nesse longo espaço de tempo, Luiz Barsi Filho foi engraxate, vendedor, estagiário de contabilidade, auditor contábil, professor, operador da bolsa, consultor, sócio de corretora, presidente da Corecon-SP, entre outros. Além disso, agora Barsi pode ser chamado de escritor, visto que recentemente teve sua autobiografia publicada. A obra “O Rei dos Dividendos”, da editora Sextante, foi usada em parte para a escrita deste texto e conta de forma muito mais detalhada a trajetória do megainvestidor, além de conter de forma mais completa os posicionamentos de Barsi em relação a sua estratégia de investimento. Para aqueles que desejam conhecer a história do maior investidor do Brasil, recomenda-se a leitura de seu livro.
Gustavo Altoé de Araujo
Graduando em Ciências Econômicas
Equipe de Mídias da UFES Finance
REFERÊNCIAS
Barsi, Luiz. O Rei dos Dividendos: A saga do filho de imigrantes pobres que se tornou o maior investidor pessoa física da bolsa de valores brasileira. São Paulo: Sextante, 2022.
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